Pedreira do Nordeste

Friday, July 31, 2009



Pedro Correia

Saturday, April 08, 2006

Mulher de Aldeia

Mulher de Aldeia

Ia de tamancos p'ra fonte
A mulher da minha terra
O tempo lhe apagou o nome
Mas não, nunca a graça dela

Vi-a trazendo duas talhas
Ligeira p'la rua abaixo
Tantas, tantas madrugadas
De quanta lida e cansaço

De manhã de madrugada
De avental, passo ligeiro
Que bonita, que engraçada
Que ternura no seu geito

Foi um dia ainda jovem
Que à fonte se veio encontrar
Com aquele que foi seu homem
Com quem iria casar

Junto à fonte o seu primeiro
Seu primeiro beijo deu
Transbordava o pote cheio
-Como de tudo se esqueceu

Naquele momento da fonte
Naquele momento de vida
Embarcou e foi p'ra longe
Seu coração de batida

Depois entra e sai dia
Trouxe um dia um filho seu
Se tornou mãe a rapariga
Que na fonte a talha encheu

No lamento do encher de água
De qualquer bilha de barro
Juntou com lágrimas sua mágoa
Amarga mágoa --seu fado

Passaram-se anos atrás de anos
Tornou-se triste, cansou-se
A canção da água, seus prantos
Suavizavam, calou-se

Atado o seu lenço à nuca
Passava como fidalga
Na volta molhava a rua
Ela mais sua velha talha

Secou-se já essa fonte
Mas não a memória dela
A sua alma foi p'ra longe
Mas ficou sim a história dela.

Silvério Gabriel de Melo. Vogelbach, Alemanha

A Vida, Padeira














CORTESIA DA CAMARA DO NORDESTE

CENAS DA ALDEIA

AVida É Um Forno

A vida é um forno
Onde se coze o pão
Padeiro é o fôlego
Fermento o coração


Amassado com gosto
Com esforço e paixão
--Cada broa é um consôlo
Promessa, missão

O espírito é a massa
A côdea é o corpo
Conforme a chama
Sai duro ou sai fôfo

Conforme o ardor
Sai anjo ou diabo
Fresco e bom p'lo amor
P'lo vício queimado

Padeira, Padeira
De rosto abrasado
Olhai a braseira
Tomai de nós cuidado

Este aqui já se abre
A brasa o queima
Padeira, comadre
Vem ao forno, espreita

Traz p'ra cá a pá
Padeira depressa
Que na hora está
Do pão ir p'ra mesa

Lavrador, lavrador
Prepara-me o vinho
Que seja do melhor
Que seja do mais fino

Sobre esta minha mesa
Coloca a toalha
Sobre ela a candeia
De luz e de graça

Fresquinho o pão
Mais uns bolos de massa
Depois da procissão
Sabe bem vir p'ra casa

Silvério Gabriel de Melo. Vogelbach, Alemanha

Thursday, March 16, 2006

Pedreira do Nordeste, Sao Miguel, Azores

















Pedreira do Nordeste
Nossa Terra, nosso rincão
Terra onde eu nasci, tu nasceste
Terra do nosso coração



Pedreira do Nordeste, Sao Miguel, Azores

Pedreira do Nordeste is a small village located on the Norheastern part of the island of Sao Miguel in the Archipelago of the Azores. It has a bucolic scenery and is surrounded by pastures and woodlands that remind one of the Black Forest region in Germany. Nearby there are two outstanding look-out points that bring forth the best that the Island of Sao Miguel has to offer. They are the Miradoiro da Ponta do Sossego and Miradoiro da Ponta da Madrugada.


Baladas da Minha Terra

Baladas da minha terra, do Nordeste
De um povo humilde, poeta, cavalheiro
Terra do Nascer-do-Sol, do vento agreste
Que sopra vindo do mar, feroz, vareiro

De uma igreja para cada aldeia da cor da neve
Erguidas sobre algum alto, ao mar sobranceiro
Cada uma delas um padrão de fé, de prece
Qual pastor mais seu rebanho, mágico enleio

Aldeias quais ondas brancas por todo o lado
Hortênsias azuis cor do céu num mar de verde
Essa é a nossa terra mãe, torrão sagrado

Ali nascemos, dali fomos, somos seu povo
Ainda que longe o nosso pensamento a ela se ergue
Pois filhos dela somos, somos dela mosto.

Silverio Gabriel de Melo

Para quem viaja até à ilha de São Miguel nos Açores deve fazer um esforço para visitar a zona do Nordeste, especialmente o miradoiro da Ponta da Madrugada e a Ponta do Sossêgo no Lombo Gordo e Lombo do Meio respectivamente. A aldeia mais próxima é a Pedreira do Nordeste, uma lomba da Vila do Nordeste. Como muitas outras aldeias do Nordeste e zona da Povoação, existe ali uma riqueza paisagistíca de grande valor só hoje devidamente apreciada e aproveitada para o turismo.

A Pedreira do Nordeste por se encontrar com a vizinha água Retorta na extremidade mais extremo da ilha foram aldeias totalmente entregues à sua sorte até bastante recentemente. No tempo dos nossos pais, as comunicações faziam-se por um caminho velho que ligava o Nordeste com a Vila da Povoação. Era por esse caminho que os vendelhões circundavam. O meio de transporte mais comum nessa época era feito a burro ou a cavalo. Algumas das comunicações faziam-se pelo mar em batéis que iam de enseada a enseada onde o acesso à terra era mais fácil. Nessas condições, nascia-se e envelhecia-se muitas vezes sem nunca ir além da freguesia ou aldeias vizinhas.

Terras remotas, o interesse de algum historiador como Gaspar Fructuoso, era mínimo. Aliás, numa época em que as riquezas da Índia e do Novo Mundo é que contavam, num país mais dedicado ao comércio e á expansão do que às letras, manter crónicas extensas sobre o desenvolvimento destas ilhas não era não o objectivo dos nossos governantes, nem de qualquer cronista que se prezasse. Por isso, com muito respeito a Gaspar Fructuoso e outros cronistas da época, muito da história do Açores e do seu povo reduziu-se a um modesto número de dados que convinham apontar por razões administrativas da Corte; o resto deixou-se passar entre os dedos como miolos de pão atirados ao chão por Hansel e Gretel, a história de duas crianças habandonadas na floresta por vontade da sua madrasta, que por não os poder mais manter se quis ver livre deles.Assim pouco se conhece de real e profundo sobre o desenvolvimento de muitos povoados da nossa terra.

A Pedreira do Nordeste, segundo os cronistas, tratava-se de uma zona de denso arvoredo e uma Pedreira onde se extraíu pedra para embelezar muitos edifícios tanto na Vila do Nordeste como na cidade de Ponta Delgada. Aos poucos os trabalhadores, pedreiros e lenhadores, construíram as suas casas. Muitos deles eram até oriundos da Povoação, o primeiro povoado da ilha. Seguiu-se a lavoura em pequena escala. Gradualmente trabalharam-se as vertentes de ladeiras e encostas dos montes circumvizinhos tornando-os em terraços muito fertéis apesar de igualmente muito trabalhosos. Um amálgama de povo vindo mais que provávelmente primeiramente do Algarve, a zona mais próxima de Sagres, também da zona de Lisboa e Alto Alentejo, mesmo da Beira Alta, Minho e Estremadura, junto com elementos Árabes e Judeus tornaram-se o povo do Nordeste.

Isolados do resto da ilha por um relevo de terra bastante acidentado, cortado por vales estreitos e elevações de difícil acesso, ali lutava-se pelo dia à dia. Livres do directo domínio de grandes senhores, obedientes à Santa Madre Igreja, a cultura que se desenvolveu foi uma de respeito uns pelos outros e pelos governantes, assim como de árduo trabalho, de resignação e modéstia.O primeiro lugar de culto contava de uma capela próximo da Vila do Nordeste junto à Ribeira da Ponte, onde o povo se deslocava aos Domingos e dias feriados para assistir à missa. Era ali também junto a essa capela que se enterravam os mortos.Foi, depois, já no tempo dos nosso avós que se construiu o primeiro templo. Com a ajuda de todo o povo esse templo ficou concluído em 1872 e foi dedicado à Nossa Senhora da Luz.

A Fajã do Araújo que se pode avistar do Lombo do Meio ou da Ponta do Sossêgo, é um lugar idílico para se passar uns dias no Verão. Existem aí algumas casas de veraneio e apesar do perigoso acesso por um íngreme caminho na rocha denominado como “As Portas,” muitas são as pessoas que aí se deslocam para uns momentos paradisíacos longe de tudo e de todos em comunhão com o vasto mar e os terrenos de vinhas.

Para cima da aldeia fica a Florestal, um autêntico parque natural que mostra as belezas do interior da ilha de São Miguel e as maravilhosas vistas da Tronqueira e da Serra. Lá do alto avista-se toda a aldeia da Pedreira, assim como a Vila do Nordeste e mais ao longe casas da Fazenda. Aí sente-se na realidade a liberdade da altura, uma sensação talvez igual àquela dos milhafres que por ali fazem os seus ninhos. Em suma, visitar o Nordeste, e especialmente a Pedreira do Nordeste, vale sim a pena pois é conhecer um património esquecido da época dos Descobrimentos.

Silvério Gabriel de Melo




Momento de Ilha

Assobiando pela estrada fora
Vai um camponês-- aos ombros um sacho
Com uma aguilhada conduz o gado
Descalço vai, mas nem se importa

É um paraíso a sua ilha toda
Mas vai absorto, distraído, alado
Sonhando um dia poder mudar seu fado
Espera poder ir-se dali embora

Para terras longes, para terras grandes
Onde melhor sorte possa encontrar
Fugir ao destino que o prende ao mar

Ouvem-se p'los pastos chocalhos distantes
Bucólica a terra de encantos tais
Não o deixará, dele não sairá jamais.


Mulher de Aldeia

Ia de tamancos p'ra fonte
A mulher da minha terra
O tempo lhe apagou o nome
Mas não, nunca a graça dela
Vi-a trazendo duas talhas
Ligeira p'la rua abaixo
Tantas, tantas madrugadas
De quanta lida e cansaço
De manhã de madrugada
De avental, passo ligeiro

Que bonita, que engraçada
Que ternura no seu geito
Foi um dia ainda jovem
Que à fonte se veio encontrar
Com aquele que foi seu homem
Com quem iria casar
Junto à fonte o seu primeiro
Seu primeiro beijo deu
Transbordava o pote cheio
-Como de tudo se esqueceu
Naquele momento da fonte
Naquele momento de vida
Embarcou e foi p'ra longe
Seu coração de batida
Depois entra e sai dia
Trouxe um dia um filho seu
Se tornou mãe a rapariga
Que na fonte a talha encheu
No lamento do encher de água
De qualquer bilha de barro
Juntou com lágrimas sua mágoa
Amarga mágoa --seu fado
Passaram-se anos atrás de anos
Tornou-se triste, cansou-se
A canção da água, seus prantos
Suavizavam, calou-se
Atado o seu lenço à nuca
Passava como fidalga
Na volta molhava a rua
Ela mais sua velha talha
Secou-se já essa fonte
Mas não a memória dela
A sua alma foi p'ra longe
Mas ficou sim a história dela.

Silvério Gabriel de Melo. Vogelbach, Alemanha