Pedreira do Nordeste

Saturday, April 08, 2006

Mulher de Aldeia

Mulher de Aldeia

Ia de tamancos p'ra fonte
A mulher da minha terra
O tempo lhe apagou o nome
Mas não, nunca a graça dela

Vi-a trazendo duas talhas
Ligeira p'la rua abaixo
Tantas, tantas madrugadas
De quanta lida e cansaço

De manhã de madrugada
De avental, passo ligeiro
Que bonita, que engraçada
Que ternura no seu geito

Foi um dia ainda jovem
Que à fonte se veio encontrar
Com aquele que foi seu homem
Com quem iria casar

Junto à fonte o seu primeiro
Seu primeiro beijo deu
Transbordava o pote cheio
-Como de tudo se esqueceu

Naquele momento da fonte
Naquele momento de vida
Embarcou e foi p'ra longe
Seu coração de batida

Depois entra e sai dia
Trouxe um dia um filho seu
Se tornou mãe a rapariga
Que na fonte a talha encheu

No lamento do encher de água
De qualquer bilha de barro
Juntou com lágrimas sua mágoa
Amarga mágoa --seu fado

Passaram-se anos atrás de anos
Tornou-se triste, cansou-se
A canção da água, seus prantos
Suavizavam, calou-se

Atado o seu lenço à nuca
Passava como fidalga
Na volta molhava a rua
Ela mais sua velha talha

Secou-se já essa fonte
Mas não a memória dela
A sua alma foi p'ra longe
Mas ficou sim a história dela.

Silvério Gabriel de Melo. Vogelbach, Alemanha

A Vida, Padeira














CORTESIA DA CAMARA DO NORDESTE

CENAS DA ALDEIA

AVida É Um Forno

A vida é um forno
Onde se coze o pão
Padeiro é o fôlego
Fermento o coração


Amassado com gosto
Com esforço e paixão
--Cada broa é um consôlo
Promessa, missão

O espírito é a massa
A côdea é o corpo
Conforme a chama
Sai duro ou sai fôfo

Conforme o ardor
Sai anjo ou diabo
Fresco e bom p'lo amor
P'lo vício queimado

Padeira, Padeira
De rosto abrasado
Olhai a braseira
Tomai de nós cuidado

Este aqui já se abre
A brasa o queima
Padeira, comadre
Vem ao forno, espreita

Traz p'ra cá a pá
Padeira depressa
Que na hora está
Do pão ir p'ra mesa

Lavrador, lavrador
Prepara-me o vinho
Que seja do melhor
Que seja do mais fino

Sobre esta minha mesa
Coloca a toalha
Sobre ela a candeia
De luz e de graça

Fresquinho o pão
Mais uns bolos de massa
Depois da procissão
Sabe bem vir p'ra casa

Silvério Gabriel de Melo. Vogelbach, Alemanha